sexta-feira, 3 de junho de 2011

Uma mente inquieta página 2

Um pouco mais das eperiências de Kay, que parece com muito de nós.

 "Mesmo depois de minha condição se tornar uma emergência médica, eu ainda oferecia resistência intermitente à medicação que tanto minha formação quanto o conhecimento de pesquisas clínicas me diziam ser a única forma racional de lidar com a doença que eu tinha.
Minhas manias, pelo menos nas suas apresentações iniciais e brandas, eram estados absolutamente inebriantes que proporcionavam intenso prazer pessoal uma fluidez incomparável de pensamentos e uma energia contínua que permitia a transposição de novas idéias para trabalhos acadêmicos e projetos. A
medicação não só interrompia esses períodos velozes, de vôos altos; ela também trazia consigo efeitos colaterais aparentemente intoleráveis. Demorei demais para perceber que anos e relacionamentos perdidos não podem ser recuperados, que o mal que se faz a si mesmo e aos outros nem sempre pode ser corrigido e que libertar-se do controle imposto pela medicação perde seu significado quando as únicas alternativas são a morte e a insanidade.
A guerra que travei comigo mesma não é rara. O principal problema clínico no tratamento da doença maníaco-depressiva não está na inexistência de medicação eficaz – ela existe – mas na tão freqüente recusa dos pacientes a tomá-la. E o que ainda é pior, em decorrência da falta de informação, de falhas na atenção médica, do estigma ou do medo de conseqüências em termos pessoais e profissionais, eles simplesmente não procuram o tratamento. A doença maníaco-depressiva deforma o estado de humor e os pensamentos,
estimula comportamentos aterradores, destrói a base do pensamento racional e, com enorme freqüência, solapa o desejo e a vontade de viver. É uma doença biológica nas suas origens, mas que dá a impressão de ser psicológica na vivência que se tem dela; uma doença sem par no fato de proporcionar vantagens e prazer e que, no entanto, traz como conseqüência um sofrimento quase insuportável e, não raramente o suicídio.
[...]
Tive minhas dúvidas quanto a escrever um livro que descreve de modo tão explícito minhas próprias crises de mania, depressão e psicose, além da minha dificuldade de admitir a necessidade de medicação contínua. [...] Estou cansada de me esconder, cansada de energias desperdiçadas e emaranhadas, cansada de agir como se eu tivesse algo a esconder. Cada um é o que é, e a desonestidade de se esconder atrás de um diploma, de um título ou de qualquer forma e reunião de palavras ainda é exatamente isso: desonesta. Necessária,
talvez, mas desonesta.” (p.4-9)


2 comentários:

  1. Oi querida!
    Passei para dizer oi....
    Voltarei depois para comentar...
    Bjus
    Marly

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  2. Olá querida!
    Vc já leu o Livro uma mente inquieta? vi o resumo e não exitei em postar, afinal de contas,preciso compartilhar com aqueles que são como eu: portadores do TAB.
    Sempre que puder entre no blog e se possível deixe seu comentário, faz bem à mim,pois mesmo rodeada por pessoas me sinto só...no mundo bipolar.
    Bj
    Clay

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